A dor de uma amizade perdida

Já perdi algumas amizades – e, olha, dói, viu? Não tô falando de perder porque nos distanciamos, não. Perder de verdade, daquelas perdas que a pessoa não quer mais falar com a gente e corta a relação totalmente. A gente sente um luto real, porque é como se a pessoa tivesse morrido, ou até pior, porque a gente sabe que ela tá viva, mas não quer falar com a gente.

O pior não é perder, mas perder sem você querer. Por não ter dado a atenção que a pessoa precisava em algum momento ou por você ter sido do jeito que você é, sem maldade, mas acabou magoando a pessoa sem intenção.

Eu costumava ser um amigo relapso, desencanado, daqueles que ficavam meses sem mandar mensagem ou aparecer, e do nada marcava uma viagem pro exterior com a pessoa. E também me distanciava dos amigos quando começava a namorar (ridículo, mas parece que é até comum quando se é mais novo). Eu era assim, que merda, paciência. Por sorte, mudei, em parte porque eu entendi que isso não é amizade pra valer, em parte porque eu encontrei Jesus, ops, não, quer dizer, eu consegui perceber como isso me fazia mal.

Eu não acredito em “amizade de baixa manutenção”, como um dia acreditei. Amizade mesmo precisa de atenção, cuidado, um mínimo de dedicação, algum contato frequente, seja troca de figurinhas, memes ou bebedeiras. E tem interesse e vontade dos dois lados. Se não tem isso, não é amizade, tem outro nome (talvez coleguismo). Mas amizade mesmo, não é. E só aprendi isso com o tempo, depois de perder alguns amigos. E uma das perdas que mais me doeram foi por eu não entender isso na época.

Antigamente, eu tinha um problema seríssimo de furar ou desmarcar os encontros com uma certa frequência. E foi numa dessas vezes, em 2017, que dei pra trás num combinado, que uma amiga cortou a amizade comigo pela segunda vez.

Sim, segunda vez. Isso já havia acontecido uma vez antes, em 2006, com direito a post no blog dela me detonando e tudo, e ficamos uns 8 anos com ZERO contato. Até que, um dia, depois de uns três emails dela dizendo que nem se lembrava mais do motivo do fim da amizade, voltamos a ser amigos (e escrever isto me deixou com a sensação de que eu estou na 2ª série do Fundamental, mas foda-se, é o que é).

Na época que retomamos o contato, em 2014, foi bem legal, e ficou assim por alguns anos. Fui ao casamento dela, muito feliz por ter sido convidado depois de tantos anos distante, e ela também foi presente no período do meu divórcio, em 2015, e foi um apoio importante pra mim.

Parecia que tudo tinha voltado ao normal, até que, em 2017, depois que eu desmarquei uma pizza ou algo do tipo, ela cortou de novo a amizade. Não foi como da primeira vez, quando o corte foi brusco; desta vez, ela não avisou que cortou, só não aceitava marcar mais nada, dizendo que não podia, respondendo sempre “um dia a gente marca”, até que eu desisti de tentar e ficou assim. Nunca mais nos falamos nem nos vimos, e já faz… 8 anos. De uma amizade que começou em 1995, por aí, 30 anos portanto, ficamos mais tempo sem contato – uns 16 anos –, que como amigos.

Esse segundo corte na amizade foi tão inesperado que eu acabei ficando com um presente que eu havia comprado pra dar pra ela e que só não dei porque chegou bem depois desse final. Era uma caneca com o desenho de um gato parecido com o David Bowie. Ficou aqui um bom tempo, anos mesmo, até que um dia desencanei e joguei fora.

Ah, encontrei uma foto. Era esta:

Mas essa não foi a única amizade que perdi. A outra foi, curiosamente, da irmã dela, porém por um motivo completamente diferente.

Aconteceu em 2018. Fiquei chateado porque ela não me retornava fazia meses, e ela ficou magoada com uma resposta que dei (eu fui seco e não pensei que talvez ela não estivesse passando por um momento bom, e que por isso havia sumido). Eu pedi desculpas depois e quis encontrá-la, mas não adiantou, ela também passou a me ignorar.

Somente este ano, 7 anos depois, retomamos um pouquinho o contato, mas ainda não nos encontramos pessoalmente, nem conversamos sobre o que aconteceu, só voltamos a nos seguir no Instagram e falamos rápido sobre marcar um hambúrguer qualquer dia desses. Mas já fiquei contente porque ela sempre foi uma puta amiga minha, confidente mesmo, como era a irmã dela.

(Parênteses rápido que vale contar porque me lembrei agora: ela foi casada por 10 anos, mais ou menos de 2005 até 2015, e, nesse período, ficou sem praticamente nenhum contato com nenhum amigo, inclusive eu. Ou seja, também ficamos afastados por dois períodos diferentes e longos.)

Quanto à irmã dela, com quem estou sem falar há 8 anos pela segunda vez, não deve ter volta mesmo. Sinto falta da nossa amizade, mas não vou insistir mais. Por isso acho que a única lembrança que restou mesmo é o pote de vidro com origamis da primeira foto que ela me deu de presente uma vez. Pena.

atilac qua 03.set.2025 15:16:50