Kill Bill – Vol. 1, da banalização à ridicularização da violência

Não podia ter sido melhor. A sensação que eu tive depois de assistir ao novo filme do Tarantino foi de satisfação total -ou quase, porque ainda resta saber como a história acaba, e ela só acaba com o Vol. 2.

Ando dizendo às pessoas que ainda não assistiram que Kill Bill é o renascimento do mestre Tarantino. Uma das coisas mais bacanas do filme são as referências, incontáveis. Ao mangá, ao animê, a Bruce Lee, a Star Wars. Aos filmes B de luta dos anos 70, a Matrix. Demais. Não bastasse esse lado de referência, que também é uma forma de homenagem, o filme também é, na minha opinião, uma crítica.

Alguns têm reclamado que Kill Bill tem cenas de violência em excesso, crueldade demais e muito sangue. Tudo é verdade. Mas uma coisa que esses críticos talvez não tenham percebido é o tom da violência. As cenas de violência de Kill Bill são tão absurdas, tão improváveis, tão exageradas, que são cômicas, fazem rir. Por isso não é de estranhar que grande parte da sala de cinema em que assisti ao filme tenha se afogado em gargalhadas diversas vezes -só pra constar, vi no Bristol, lá na av. Paulista com a Augusta, na sexta-feira à meia-noite, acompanhado dos meus amigos Flávio Japa, Adriano, Daniel e Simone, todos do meu curso da pós.

Essa violência absurda é uma referência aos mangás japoneses, sempre exagerados. E a crítica a que me referi é óbvia. Tarantino está criticando, à sua maneira, os filmes que são pretensamente violentos. E talvez até a própria violência que periodicamente surge, na sua forma extrema, nos fatos noticiados pela imprensa. 

Importante destacar também que tudo o que Tarantino mostra, desde os braços amputados até as cabeças decepadas, não é novidade para ninguém. Nem para as crianças, que, a partir do momento que possuem um computador e conexão à Internet, têm acesso livre a todo tipo de violência. Nesse sentido, Tarantino talvez queira nos lembrar que tudo o que Kill Bill traz em matéria de sangue já está, por exemplo, nos desenhos animados de Happy Tree Friends.

Não dá pra falar do filme sem falar também das cenas de luta, que são um verdadeiro show. Uma Thurman não parece, ela é uma puta lutadora de artes marciais e usa espada samurai como ninguém. Lucy Liu está foda. Aliás, todas estão. Mas a atriz que mais surpreende no filme é Chiaki Kuriyama, que faz a colegial assassina chamada Gogo. Ela é simplesmente surpreendente. Na verdade, não exatamente pela forma como luta, mas sim pela maneira como encarna a personagem. É impressionante. Veja e me diga se não estou certo.

Não é possível gostar de Kill Bill lhe assistindo com outro olhar, a partir de outro ponto de vista. O que parece é que Tarantino deixou de tratar da banalização da violência em seus filmes para tentar ridicularizá-la, mostrar também como ela pode ser cômica. Se não é isso, pelo menos ele prova que sabe manipular o tema como ninguém, nos fazendo rir de algo que sempre assusta.

PS: Uma Thurman e Lucy Liu estão lindíssimas no filme. Em especial Lucy, com aqueles olhos puxados e aquele cabelo negro superliso que me deixam louco…

atilac dom 25.abr.2004 09:55:00

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