Filosofia a 24 quadros por segundo
Assisti a Matrix pela 6ª vez esta madrugada. Sem dúvida, é meu filme preferido. Mas não é por isso que vim aqui agora.
Vim aqui pra falar sobre a atualidade de um filme que começou a ser filmado em 1997 e foi lançado em 199 (ou seja, quatro anos atrás). Atualidade que não se desgastou com o tempo, seja na linguagem usada, seja no tema abordado – e como foi abordado.
Matrix foi uma revolução porque introduziu pela primeira vez recursos e estilos dos desenhos animados japonses no cinema. As tomadas das câmeras (como naquele momento que Trinity vai dar um tiro na cabeça de um sensciente e a câmera mostra a visão a partir do olho dele – simplesmente espetacular) e as imagens em 3D geradas pela sensação de movimento da câmera (para a qual o responsável pelos efeitos especiais utilizou 55 câmeras colocadas em torno dos atores, em cenas como aquela em que Trinity – novamente, ela – se prepara para dar um chute no policial, ainda no início do filme) são todas inovadores no cinema. Mas isso não é novidade. Quem alugar o DVD do fime, como eu refiz ontem, pode sacar tudo isso sem entender patavinas de inglês apenas assistindo ao making-of.
Só esses fatores já renderiam alguns prêmios aos produtores do filme (esqueçam o Oscar, que não presta muita atenção a esse tipo de coisa). Mas Matrix vai muito além. Os irmãos Wachowski fazem filosofia a 24 quadros por segundo, como talvez apenas Stanley Kubrick (e um ou outro) tenham ousado fazer. A diferença é que o filme encabeçado pelo canadense Keanu Reeves é filosofia pura, com pitadas de psicologia e misticismo.
Imaginar que nosso mundo é irreal não é lá tão novidade assim. Mas imaginar que nosso mundo é uma projeção mental gerada por um programa de computador – a Matrix -, que por sua vez foi criado por máquinas que já dominaram o mundo, não dá somente uma excelente história. Mostra uma grande visão, uma excelente imaginação dos diretores/escritores. Uma sensibilidade e uma vontade de explicar o mundo – ou, no mínimo, de propor explicações para ele.
Claro que a filosofia deles resgata outras mais conhecidas, como as de Platão. Mas não deixa de ser original pela forma como as utiliza para embasar a sua própria.
Num próximo post, vou responder a uma questão que talvez um dos meus três leitores esteja se fazendo: mas e o comercialismo? Matrix não foi feito para “vender”?
Aguarde um próximo post. Agora vou sair e comemorar o Dia das Mães.