Veja só descobre blogs agora e pensa que sabe o que é

matéria da Veja sobre blogs (só para quem tem email do UOL) conseguiu ser pior do que muitas outras publicações. Além de reduzir o blog a uma versão eletrônica do “diário de adolescente” (“[…] Aquelas confissões de adolescente, que antes eram anotadas em cadernos e guardadas a sete chaves, agora são escancaradas na internet”), a “conceituada” revista fornece números sem citar fonte (“[…] A mania, que surgiu nos Estados Unidos, já tem mais de um milhão de adeptos ao redor do mundo – 60.000 deles no Brasil”)

A revista aponta como motivo para o sucesso dos blogs a facilidade de criação. Simplista demais. O repórter, talvez por desconhecer o tema ou por pressa para concluir o texto, não percebeu a real importância do blog (e de páginas pessoais em geral) na comunicação. 

Não mencionou o fato de os internautas serem também leitores e, como seres humanos típicos, ávidos por comunicação. Comunicação, não apenas informação. Isto significa que informação é apenas parte do processo de comunicação, ação que presume uma via de mão dupla, com informação entrando e saindo, troca de dados. 

Tendo o processo tradicional de comunicação como exemplo (revistas, jornais, TV, rádio), é fácil identificar uma “falha” em uma das “vias” da estrada da comunicação. Qual? Exatamente a de retorno, de feedback, como gostam de chamar alguns. Há falha na via de informação que parte do leitor – que, no caso, talvez não queira enviar uma informação nova, mas uma crítica, uma observação, coisas que também são parte do processo de comunicação. 

Os blogs fazem exatamente o papel de pavimentadores dessa via esburacada. Ainda que não tenham o mesmo alcance das publicações famosas e “conceituadas”, eles criam um espaço que faltava no antigo processo de comunicação. Criam “vias expressas” na via defeituosa, conseguem emendar atalhos entre os leitores em comum, internautas com os mesmos interesses, para que eles possam comentar, opinar, criticar tudo o que sai e – principalmente – o que não sai na “grande imprensa”. 

O que tudo isso vai virar? Difícil dizer, talvez nada, talvez algo grande. Mas uma coisa é possível dizer sobre os blogs: eles são muito, muito mais que um diário adolescente falando sobre as experiências da puberdade. Mesmo quando eles se propõem ser apenas isso, os blogs estão sendo muito mais. Os blogueiros estão querendo expressar publicamente suas opiniões e visões sobre os fatos e acontecimentos, ocorridos no quintal de casa ou no Congresso Nacional. E isso não deve ser subestimado, deve ser analisado com cautela.

atilac sáb 01.jun.2002 22:52:00

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