Discussão no Metrô

O pior do dia, ontem, ficou por conta de uma discussão com um funcionário do Metrô, na estação Santa Cruz (onde fica o Shopping Metrô Santa Cruz).

Meu primo, Bruno – que estava comigo, a Kelly (irmã dele) e o Gleyson (estagiário da assessoria em que trabalho) – passou com um bilhete escolar por uma catraca que não tinha aquele adesivo losangular amarelo, que identifica as catracas para bilhetes especiais. Até aí, dane-se, culpa do Metrô, que não bloqueou a catraca, não concorda? Ele passou sem querer, pois não percebeu que a catraca não era especial, só que não foi barrado, portanto dane-se. Era só passar e continuar a viagem, certo? Mas não foi isso o que aconteceu.

Um funcionário coroa do Metrô deve ter ouvido quando minha prima disse “Bruno, aí não dá” antes de ele conseguir passar. E provavelmente ouviu quando dissemos também, em seguida: “agora que passou, deixa, vem logo”, e estranhou. Só que, em vez de perguntar o que houve, ele agarrou meu primo e o fez voltar para o outro lado da catraca. 

Minha prima e eu pensamos que ele fosse passar meu primo por uma especial, para efeito de contagem e controle do sistema, mas não: ele deixou meu primo lá. Fui perguntar o que tinha acontecido e o funcionário disse que meu primo passou com um bilhete irregular. Eu disse que não era irregular coisa nenhuma, e ele, prepotente, tentando desqualificar o que eu estava dizendo, deu um sorriso irônico e saiu de lado, encostando numa das catracas, no canto. Aí, meu, saí de mim: fiquei puto, putaço, meu sangue ferveu e fui perto dele e comecei uma discussão que só acabou uns 10 minutos depois, com o supervisor (acho que da estação) vindo conversar com a gente, ao lado de um outro funcionário.

O funcionário que causou toda a discussão se chama Mané*. Depois de dizer que meu primo tentou enganar a catraca e de dar o risinho irônico (grandíssimo filho-da-puta), ele – já exaltado também, sem querer reconhecer que errou – virou para mim e perguntou “você quer enganar quem?”. Meu sangue entrou em estado de ebulição; senti meu corpo e meu rosto quentes. Foi então que comecei a falar mais alto, sem prestar atenção a nada nem a ninguém em volta. E perguntei várias vezes: “eu tenho motivos para enganar o senhor?” (ainda o chamava de senhor, o maldito); “isso é preconceito! Só porque ele está vestido como um skatista, o senhor acha que ele é um sacana? isso é imbecil!”. Sem querer ouvir, e de vez em quando rindo ainda mais, o idiota do senhor Mané* me mandava ficar quieto, não olhava para mim e só resmungava. “O senhor está errado e deve reconhecer isso! Se a catraca comum aceitou o bilhete especial, a gente não tem nada a ver com isso! O problema é seu!”

Nisso, se aproximou o supervisor, um tal de Denobille, junto com outro cujo nome não sei, e perguntou o que estava havendo. Eu disse que queria fazer uma reclamação formal contra o funcionário, que tinha agido com preconceito e não queria saber de nos ouvir. Mas os dois ainda desconfiavam da gente, tanto que confabularam: “Se o bilhete dele passou lá mesmo, a catraca vai dar erro 30, que é de bloqueio por 15 minutos (bilhetes de estudantes ficam bloqueados por 15 minutos depois de usados uma vez)“. Então eu disse: “Pode testar! Vai dar erro 30, tenho certeza! Porque meu primo usou, sim, essa merda de bilhete e a catraca aceitou!”. Antes de testarem, o desgraçado do tal de Mané* (nome escroto como ele, afinal) tentou acusar meu primo de passar na mesma catraca que minha prima, sem usar bilhete. Disse que ele tinha segurado “meia catraca” (deixou-a sem fazer a volta completa), para poder passar depois, tudo isso na frente do supervisor. O problema é que meu primo não passou pela mesma catraca que minha prima, mas numa do lado, o que tornava infundada a nova versão do felas

Tentaram, então, passar o bilhete do meu primo e adivinhem o que deu? Erro 30, claro, porra! Os dois se entreolharam (o felas do Mané* já tinha saído de fininho, com o rabo entre as pernas), mas ainda assim não estavam acreditando, e o funcionário que acompanhava o supervisor, sem saber exatamente o que acontecia, solta mais uma: “eu não entendo como vocês três (Kelly, Bruno e eu) passaram pela roleta com apenas dois bilhetes…”. Mais um filho-da-puta, santo Deus! Eu tinha comprado um bilhete integração ônibus (que dá direito a uma passagem de metrô e uma de ônibus), que peguei do bolso e mostrei para ele: “como assim, dois bilhetes? Olha o meu aqui, porra! Olha o do meu primo e olha o dela!”. Grande idiota!

Dissemos que meu primo não ia esperar os 15 minutos para passar coisa nenhuma, porque ele já tinha usado uma passagem e foi colocado do outro lado, mesmo tendo pagado. Dissemos que eles deveriam, “é óbvio!”, dar uma passagem a ele, porque foi injusto e errado. Só então o supervisor passou o bilhete e deixou meu primo passar.

Eu ainda insistia na reclamação formal, mas o supervisor disse que, se eu quisesse, tudo bem, mas que não era necessário porque o funcionário teria de se explicar com ele. “Isso é preconceito!”, eu dizia. Ao que o outro funcionário que acompanhava o supervisor disse, com um sorriso sacana no rosto: “Que é isso! Preconceito é uma palavra forte demais!”. “Mas existe, sim, e as pessoas tem de admitir isso! Ele foi preconceituoso, sim!”.

Minha prima disse, ou berrou, nem sei mais, ao cara que aquilo era um preconceito contra estudante. E o idiota solta essa “Que preconceito, nada! Estudante é o futuro do Brasil!”. Aquilo foi ridículo. Tanto que respondi: “ah, não venha com essa papo idiota, não. Foi preconceito e pronto!”.

“Ele agiu assim porque isso acontece sempre”, disse o acompanhante do supervisor. “Pois então”, retruquei, “o preconceito está exatamente aí: só porque quase sempre acontece isso com um pessoal parecido com ele, você iguala todo mundo. Você tem um pré-conceito sobre todos!”.

Cansado das idiotices do cara, decidi ouvir o supervisor, que disse que “nos daria um voto de confiança e…”. Nem o deixei terminar. Que absurdo! “O senhor está invertendo as coisas! Quem está mentindo aqui é o seu funcionário, ele cometeu um erro. O senhor está dando um voto de confiança nele, não em nós.” O supervisor percebeu a merda que tinha dito e tentou corrigir, mas não conseguiu. Só terminou: “não, espere, eu vou conversar com ele. Um funcionário ‘tem o direito de errar’ (isto também foi foda)”. “Mas ele não pode ser prepotente e não ter a humildade de reconhecer o erro. Deve ouvir as pessoas!”, retruquei, berrando. “Certo. Agora, ele vai conversar comigo” – como se isso fosse adiantar alguma coisa. 

Estendeu a mão para minha prima, para mim e pediu desculpas pelo que aconteceu. Saímos putos, mas ainda tremendo de nervoso – eu sentia meu corpo inteiro tremer de ódio, filho-da-puta – e só nos acalmamos na lotação, depois de chegar na estação Santana. Filho-da-puta, desgraçado! Conseguiu me fazer esquecer do filme, coisa que só acontece algumas horas depois que assisto a um filme bom como aquele.

* Nome fictício. Decidi omitir o nome real. O nome real é Tubero.

atilac sáb 18.maio.2002 01:22:00

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