Pandemia, família, amigas, amigos e erros meus: uma reflexão e um desabafo sobre 2020 (e de alguns anos antes também)
(Encontrei este texto que escrevi no dia 01/jan/2021, logo depois de passar o primeiro Natal e Reveillón sozinho pela primeira vez na vida.)
O que essa pandemia está fazendo com a gente é muito triste. E tenho medo de que algumas coisas nunca mais voltem a ser como antes, mesmo quando tudo voltar ao normal.
A saudade que eu sinto de conviver com minha família e meus amigos e amigas como antes, com todo mundo junto, em aniversários, churras, festas, viagens, pizzzadas, é imensa. Tão grande que ainda choro de vez em quando só de me lembrar e de ver nossas fotos.
O meu medo é que isso nunca mais aconteça, não por causa da pandemia, mas porque os pequenos grupos que se formaram por causa dela se tornem emocionalmente autossuficientes e não sintam mais vontade de se integrar de novo com os demais. Só de pensar nessa possibilidade, já me dói demais.
Minhas duas famílias, do meu pai e da minha mãe, já tiveram desavenças grandes dentro delas nos últimos 3-4 anos, que acabaram dividindo cada uma delas em 2 grupos pelo menos. São famílias muito grandes, com 9 tios e tias de um lado e 8 de outro, com seus respectivos companheiros e companheiras (e ex também), além de primos e primas de 1° e 2° graus. Sem contar alguns primos e primas de 3° grau com quem tenho contato. Chuto que sejam umas 80-100 pessoas somadas (vou calcular num dia de menos preguiça).
A família da minha mãe se dividiu por causa da política. A do meu pai, na época que a minha já avó ficou doente. Ambas não são mais as mesmas desde então.
Não importa aqui qual lado tem razão ou não no que levou à ruptura. Não vim discutir isso. Meu desabafo tem relação com o que eu sinto com as famílias rompidas e, já há alguns meses, convivendo tão pouco. E como me preocupo com o futuro da gente, algo que também deve estar preocupando outras tantas pessoas que têm famílias grandes e que eram unidas e próximas como as minhas.
As famílias já não estavam 100% como eram há uns 5-6 anos (100% como uma família pode ser, com seus altos e baixos e tretas normais). Aí veio a pandemia e fodeu tudo.
O pior de tudo pra mim, controlador que sou, é não ter como cicatrizar (sozinho ou ajudando) as feridas das duas famílias. Ou elas continuam igualmente abertas e expostas sem band-aid, ou as beiradas dos cortes só se afastam mais, sem pontos ou micropore pra juntar os dois lados até que se grudem de novo, ainda que fique com uma cicatriz depois.
Com meus amigos e amigas, a situação é diferente, mas também é triste ou muito triste. É ruim nos casos em que não nos encontramos pessoalmente ou nos vimos muito pouco. E chega a ser bem ruim nos casos em que eu tomei alguma atitude errada (sem nenhuma relação com a pandemia) e afetei amizades.
Já perdi amigas e amigos em outros anos e até hoje sofro por isso. E não quero perder mais ninguém por causa da pandemia. Já basta ter perdido por culpa minha ou recíproca.
Não estou falando de perder a pessoa porque ela morreu, o que seria muito doloroso, lógico. Perder uma amizade, aqui, tampouco é estar distante e falar com a pessoa poucas vezes por ano. Isso é normal. Tenho amigos e amigas de coração com quem troco 2 ou 3 mensagens em alguns anos e não deixo de considerá-las amigas de verdade, irmãos e irmãs. Já fiquei sem falar quase nada por vários meses com meus melhores amigos e amigas, anos até, e hoje conversamos normalmente é às vezes nos encontramos. Quando digo “perder amizade” é simplesmente a relação ser abalada a tal ponto de um ou ambos os lados se bloquearem, ou excluírem um ao outro das redes sociais, ou um dos lados fingir e até dizer que tá tudo bem, mas não responder nada direito ou sair pela tangente anos seguidos quando o outro tenta conversar ou marcar alguma coisa. Acho que este caso é o pior de todos, porque a gente fica com uma sensação super-estranha de que tem algo errado, muito errado, por mais que a pessoa afirme que não tem. Sensação de estar maluco mesmo.
Isso aconteceu com pouquíssimas amizades minhas até hoje, mas a tristeza é grande do mesmo jeito. Mesmo que eu ache que não errei tanto a ponto de isso ter acontecido, ou mesmo que nem saiba o que aconteceu muito bem (juro que tem casos assim), eu fico bastante chateado. De vez em quando, quando a saudade aperta demais, eu tento retomar o contato, conversar, até me desculpo de novo (mesmo sem saber muito bem a razão, a pessoa tem o motivo dela e eu procuro compreendê-la). Eu posso demorar entre uma tentativa e outra, mas eu sempre tento de novo. A não ser que eu tenha sido totalmente bloqueado ou o que rompimento tenha sido muito estressante e traumático. Nestes casos (que são muito, muito poucos), eu convivo com a frustração de não poder nem tentar mais, e esperar que talvez um dia seja possível fazer uma nova tentativa.
Com a minha família, eu adoraria fazer a mesma coisa: tentar, tentar, tentar, mas não dá. Ninguém me bloqueou, mas tenho certeza de que alguns parentes me bloqueariam se eu insistisse em reunir todo mundo pra uma conversa, seja de uma família, seja da outra.
Ninguém é obrigado a conviver com ninguém, e uma família sempre tem parentes que não curtem outros, que brigam, que não se falam e até que se odeiam. As minhas duas famílias sempre tiveram isso (só não havia ódio entre ninguém), e tudo bem, porque, mesmo entre esses, sempre existiu respeito e, de vez em quando, todos se encontravam.
A dificuldade maior seria com a família da minha mãe, porque a questão é política e também envolve crenças e valores, e é quase impossível dialogar com quem não quer pelo menos considerar o que o outro diz e apresenta com fatos e dados, sem fake news,
(E é assim que o texto acaba, em uma vírgula mesmo. Não terminei na época, e não vou terminá-lo agora. Até porque dá pra imaginar aonde eu iria chegar e o sofrimento que eu tava sentindo pra escrever isso.)